Não existe forma de prever o preço de ações e títulos para os próximos poucos dias ou semanas. Mas é quase possível prever o curso desses preços em períodos longos, como nos próximos três a cinco anos. Esses achados, que parecem surpreendentes e contraditórios, foram feitos e analisados pelos premiados deste ano”, informou o comunicado do prêmio, acrescentando que os métodos criados pelos três economistas se tornaram ferramenta padrão na pesquisa acadêmica. “Avaliação errada de preços de ativos pode contribuir para crises financeiras e, como a recente recessão global ilustra, essas crises podem prejudicar a economia em geral”.
Dos três vencedores, Fama, de 74 anos, nascido em Boston, e Lars Peter Hansen, de 60 anos, atuam na Universidade de Chicago, a conhecida “Escola de Chicago”, por seu pensamento econômico que defende o mercado livre. Robert Shiller, de 67 anos, nascido em Detroit, ficou mais conhecido nos últimos anos por ter feito alertas sobre a bolha das empresas de tecnologia e do mercado imobiliário americano. No fim de agosto, Shiller apontou sinais de formação de uma bolha no mercado imobiliário brasileiro.
Para o diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni, doutor pela Universidade de Chicago, o prêmio se justifica porque a economia mundial tem sofrido nos últimos anos as "consequências devastadoras de bolhas não antecipada pelos responsáveis por políticas econômicas e bancos centrais".
- O trabalho deles busca antecipar formação de bolhas e tendências de preços de ativos de forma em geral para que governos possar tomar medidas que minimizem essa evolução dos ativos. São movimentos que podem desestabilizar a economia. A importância do tema é absoluta - avalia Langoni.
Na década de 1960, Eugene Fama, o mais antigo dos três, e vários colaboradores demonstraram que os preços das ações reagem rapidamente a novas informações e que depois do evento inicial seu comportamento se torna difícil de prever. Ele é considerado o pai da teoria do mercado eficiente. Fama é professor da Universidade de Chicago e conta com grande influência no segmento de pesquisas sobre finanças corporativas.
- Fama foi orientado pelo matemático Benoit Mandelbrot, mas se desgarrou das origens e formulou a teoria dos mercados eficientes, segundo a qual os preços dos ativos financeiros sempre incorporam toda a informação relevante sobre um determinado ativo de modo racional. Mais tarde, teve de desmentir a sua tese e a crise o ajudou nisso. Hoje, tem estudado porque os preços dos ativos financeiros muitas vezes se comportam erraticamente - disse Monica de Bolle, economista da Galanto Consultoria.
Duas década depois, nos anos 80, Shiller descobriu que o comportamento de preços dos ativos são mais previsíveis no longo prazo. Shiller é partidário da tese da “exuberância irracional dos mercados”, ou seja, de que bolhas se formam com uma certa facilidade quando há excessos não regulados adequadamente, explica Monica. É conhecido também por ser cocriador do índice de preço de imóveis S&P/Case-Shiller.
Em teleconferência durante a apresentação do prêmio, realizada pela Fundação Nobel, Shiller disse que sua reação foi de “descrença” quando soube da premiação pelo telefone, depois que “pessoas já tinham me dito que achavam que eu ganharia o prêmio”. Shiller, que foi cotado para a premiação nos últimos anos, disse ainda que as finanças são o “motor da civilização moderna”.
— Isto pode parecer estranho para alguns, mas é absolutamente verdade. Por isso, a atividade financeira tem que ser aquela em que somos melhores — explicou Shiller. — Parece a algumas pessoas que é egoísta ou ganancioso, mas não precisa ser dessa forma. A crise financeira que nós passamos foi traumática, mas estamos aprendendo com ela.
Já o americano Lars Peter Hansen, por sua vez, desenvolveu um método que é particularmente bem adaptável para testar teorias de precificação de ativos. Usando este método, Hansen e outros pesquisadores descobriram que modificações nestas teorias poderiam colaborar a explicar os preços de ativos.
Pesquisas contribuem para o dia a dia das pessoas, diz Academia
No comunicado, a Real Academia Sueca de Ciências lembra que o comportamento de preços não é importante apenas para investidores profissionais, mas para a maioria das pessoas em sua vida diária. E cita a escolha sobre como guardar dinheiro - seja em dinheiro, bancos ou ações - depende o que cada um pensa sobre o risco e retorno associado a essa poupança dos recursos.
“Os preços dos ativos são de fundamental importância para a macroeconomia, já que fornece informação crucial para decisões chaves sobre consumo e investimentos, como construção civil e maquinário. Enquanto os preços dos ativos frequentemente parecem refletir bem os fundamentos, a história mostra exemplos contrário, em eventos comumente chamados de bolhas e quebras”, diz o comunicado.
Langoni lembra que dos três economistas premiados, dois são da chamada escola de Chicago, o que chama atenção já que um dos debates econômicos após a crise era o possível fim do conceito de "mercado livre", visão que considera radical.
- Universidade de Chicago é, desde Milton Friedman, a escola que sempre defendeu que os mercado são a melhor forma de alocar recursos na economia mundial e que os governos deveriam intervir de forma limitada na economia. E sempre houve um grande debate da visão de Chicago contra os keynesianos, escola favorável à intervenção do Estado. Hoje existe convergência e todos reconhecem que os mercados são importantes assim como reconhecem que é preciso haver medidas anticíclica quando necessário - disse Langoni.
O Prêmio Nobel de Economia, que se segue ao anúncio do Nobel de Física, Medicina, Química, Literatura e Paz, não é um dos prêmios originais, que começou a ser conferido em 1901. O prêmio passou a ser conferitado pelo Banco Central da Suécia em 1968 e é conhecido como Sveriges Riksbank Prize em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel.
Fonte: O Globo
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